🔜As artes cênicas nos fascinam não porque sirvam de exemplo para que algo não se repita, principalmente se for algo ruim ou mal, mas justamente pelo oposto: para nos mostrar aonde o mal não conseguiu vencer o bem. De certa forma as representações cênicas são formas do ser humano dizer ao mundo externo - ou interno - o quanto é ou está infeliz, os grandes sucessos do cinema e do teatro são as tragédias e não os romances de final feliz. Nos filmes de maior bilheteria o herói sempre morre no final, assim como no Cristianismo.
A repetição de fatos trágicos e socialmente repugnantes se dar de forma mais acentuada mediante a socialização da arte de representar. Em sociedades aonde as artes cênicas foram pouco ou quase nada desenvolvidas a manutenção de padrões culturais e políticos eram mais perenes, basta para isso compararmos as culturas ocidentais e as orientais. Aquelas sempre influenciadas pelo teatro e pelo cinema passaram - e passam - por um moinho de transformações sociais; estas, avessas as artes cênicas, pouco desenvolvidas ao longo dos séculos e que tiveram apenas um acentuado avanço apenas nos fins do século XX, conservadoras e milenares em seus costumes e tradições. Ou seja: o papel do cinema é ser o acelerador das mudanças sociais, sem se importar muito com questões de éticas ou etiquetas e, menos ainda, em como 'ensinar' as pessoas a 'viverem melhor sem que se repita os mesmos erros do passado'. A ética e os "bons costumes" não interessa a sétima arte, os vilões são mais interessantes que os 'mocinhos' no cinema e no teatro.
Devemos ao cinema e ao teatro não o aprimoramento do caráter humano ou o avanço das conquistas sociais para a busca dos ideais humanísticos ou humanitários, mas justamente o contrário: na medida em que as artes cênicas evoluiram nas diferentes sociedades elas se deterioram proporcionalmente e, assim, em sociedades aonde as artes cênicas mais se evoluem mais perto elas estão de um abismo ético, cultural e moral - e espiritual certamente!
Existe um prazer sádico na alma humana e isto a sétima arte explora com perfeição: nos encantam mais os vilões que os protagonistas, os esquizofrênicos, bipolares e até os 'serial-killers' que os personagens planos e 'certinhos'. O Homem não aprende com os erros, nem seus nem dos outros, apenas torna-se mais perverso.
Emanoel M Arruda é formado em Letras pela UFPB desde 1993.
(Editor do site https:// moviesmovel.blogspot.com )
Campina Grande, 17 -09-2020.
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